reabilitação terceira idade

quinta-feira, 9 de maio de 2013

SAÚDE DA FAMÍLIA


Efeitos de um programa de caminhada sob os níveis de autonomia funcional de idosas monitoradas pelo Programa Saúde da Família


INTRODUÇÃO
O crescimento da população idosa vem acontecendo de forma progressiva no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os valores da projeção dessa população seguem uma curva de crescimento acelerado onde o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos até 2025. Já no Estado do Ceará, existem 607.030 idosos, dos quais 359.624 são mulheres de acordo com o Censo 2000, o que corresponde a 4,5% das 8.002.245 de idosas existentes em todo o Brasil.1
O processo de envelhecimento é acompanhado por uma diminuição da capacidade funcional que está associada ao declínio na habilidade para desempenhar as atividades da vida diária (AVD). Pode ser a maior razão para a perda da autonomia e da independência dos idosos, tornando as pessoas dependentes de outras, resultado de um estilo de vida sedentário vivido ao longo dos anos.2
As alterações biológicas, tais como perda óssea, perda de massa magra, concentração de tecido adiposo, mudanças psicossociais (entre as quais diminuição da sociabilidade, mudanças no controle emocional, baixa autoestima), vivenciadas com o passar do tempo, são determinadas pelo estilo de vida adotado na velhice e nas idades pregressas.3 Se o idoso pratica e praticou atividade física durante toda a sua vida, essas alterações serão minimizadas e a autonomia funcional será mantida.4
Dentre as atividades mais verificadas em programas de exercícios físicos para idosos, pode-se destacar a caminhada, que contribui para uma melhora na circulação e na atividade do coração, além de diminuir os riscos de problemas cardíacos.5
Na caminhada, podemos encontrar um exemplo de atividade física ideal para idosos, pois não implica riscos à saúde, tem sua intensidade controlada facilmente, não exige revisão médica para quem é saudável, além de não apresentar grandes custos para sua realização. Não obstante, são associados a esta prática inúmeros benefícios à saúde, podendo ainda ser realizada em grupo, embora os limites físicos sejam respeitados individualmente.6
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de um programa de caminhada sobre os níveis de autonomia funcional de idosas pertencentes ao Programa Saúde da Família (PSF).

METODOLOGIA

Amostra
O presente estudo buscou investigar mulheres idosas cadastradas no PSF localizado na cidade de Juazeiro do Norte, região sul do Estado do Ceará. Inicialmente, foi realizado levantamento do número de idosas cadastradas no PSF. No período em que a pesquisa foi realizada, 200 idosas compareceram no PSF, sendo convidadas a participar do estudo e submetidas a uma entrevista, visando a identificar as condições estabelecidas pelos critérios de inclusão e exclusão.
Como critérios de inclusão, adotou-se: apresentar idade igual ou superior a 60 anos e ser acompanhada periodicamente pelo PSF. Os critérios de exclusão foram: o acometimento por enfermidades agudas ou crônicas que pudessem comprometer ou se tornar um fator de impedimento para a realização das avaliações e o uso de medicamentos que causassem distúrbios de atenção.
Após os critérios de inclusão e exclusão, a amostra foi composta por 98 idosas, divididas de forma probabilística (por sorteio) em: grupo experimental (GE; n=58, idade:67±6 anos) e grupo controle (GC; n=40; idade:70±6 anos).
O estudo atendeu às normas determinadas pela Declaração de Helsinki para pesquisas envolvendo seres humanos, sendo aprovada sua realização pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Castelo Branco em 19/07/2008, sob o protocolo de número 0042/2008.7
Procedimentos
Para a avaliação física, solicitou-se às participantes que utilizassem traje de banho (maio) para mensuração das medidas de massa corporal, estatura e IMC. Foi realizado o cadastro de todas as participantes com acompanhamento sistemático através de avaliação física e clínica durante 16 semanas.
A primeira coleta de dados aconteceu na primeira semana do mês de abril e a segunda, na primeira semana do mês de agosto de 2009, ambas no turno da manhã.
Para avaliar a massa corporal, foi utilizada uma Balança da Filizola com selo do INMETRO (precisão de 100g). A estatura foi mensurada através de um estadiômetro com selo do INMETRO (precisão de 1mm). A partir dessas medidas, o índice de massa corporal (IMC) foi calculado, mais precisamente dividindo-se o peso em quilogramas pelo quadrado da estatura em metros. Com base no IMC, considerou-se como baixo-peso IMC< 18,5 kg/m2, sobrepeso >=25 kg/m2 e obesidade IMC>30 kg/m2.
Para a avaliação da autonomia funcional, foi aplicada a bateria do Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM), proposta por Dantas & Vale,8 composta por: caminhada de 10 metros (C10m);9 levantar-se da posição sentada (LPS);10 levantar-se da posição de decúbito ventral (LPDV);11 levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa (LCLC)12 e o teste de vestir e tirar uma camiseta (VTC),13 todos medidos em segundos, os quais integram de forma ponderada um escore chamado de Índice Geral do GDLAM (IG).14
Os valores de referência para classificação do nível de autonomia funcional, considerando o IG e seus componentes, foram os próprios sugeridos pelo GDLAM.14 (tabela 1)

 
O programa de intervenção foi realizado em frequência semanal de três vezes (segundas, quartas e sextas-feiras) nos horários das 17h às 17h45min, com intensidade que variava entre 55% a 75% da frequência cardíaca máxima (FCM) obtida pela equação: FCM=220-idade. A FCM foi controlada pela aferição da frequência cardíaca (FC) manual na carótida em seis segundos e multiplicada por 10. Esta FC era mensurada pelas próprias participantes, as quais receberam treinamento e orientações para que a fizesse de forma correta.
Todas as participantes tinham sua FC aferida por um dos monitores, pelo menos uma vez por sessão, logo após a autoaferição, a fim de confirmar o valor identificado pela idosa. O momento de aferição da FC era variado, sendo realizada a partir do comando do professor responsável ou solicitada pelo monitor próximo à idosa.
As sessões foram distribuídas da seguinte forma:
  • Aquecimento: duração 5 a 10 minutos de exercícios articulares dos membros superiores, pescoço, tronco e membros inferiores.
  • Propriamente dita: 20 a 30 minutos de caminhada no método natural.
  • Volta à calma: 3 a 5 minutos de alongamentos sentado e/ou deitados dos segmentos: pescoço, membros superiores, tronco e membros inferiores. Utilizando o método alternado por segmento. A atividade de intervenção foi orientada em ambiente controlado quanto à superfície (plana e não escorregadia) e marcação das distâncias percorridas (pista de atletismo não oficial - 260 metros), onde o treinamento foi controlado em função do tempo de caminhada, conforme diretrizes do American College Sport of Medicine15 e da 5ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial,16 que preconizam uma frequência mínima de três vezes por semana com duração entre 20 e 30 minutos como adequados para que sejam significativas as adaptações fisiológicas neste grupo etário.
Tratamento Estatístico
Foi utilizada estatística descritiva com média, erro-padrão, mediana, desvio-padrão, mínimo, máximo e delta absoluto. A normalidade da amostra foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk (GC) e de Kolmogorov Smirnov (GE). Para a análise das variáveis respostas, foi utilizado na análise intragrupos, o teste t-Student pareado ou de Wilcoxon, quando apropriado (distribuição homogênea ou heterogênea dos dados, respectivamente). Para a avaliação intergrupos, foi utilizado o teste paramétrico de ANOVA two way, seguido do Post Hoc de Scheffe. Adotou-se o nível de p < 0.05 para a significância estatística. Para a avaliação dos resultados, foram utilizados o programa Excell e o Statistical Package for the Social Science® (SPSS), versão 14.0.

RESULTADOS
A análise da tabela 2, referente às características antropométricas do GE e GC, permite identificar que os valores das médias de IMC dos dois grupos indicam estado nutricional de sobrepeso tanto no pré quanto no pós-teste. No entanto, a média do IMC diminuiu no GE após o período de intervenção, o que não foi observado no GC. Cabe ressaltar que a estatura no GE e o IMC no GC não apresentaram distribuição normal, sendo essas variáveis avaliadas, posteriormente, por testes não-paramétricos.

 
Na tabela 3, são apresentados os dados descritivos e a análise da normalidade da autonomia funcional (AF) do GE. As médias apresentadas em todos os testes de AF no pós-teste foram inferiores as encontradas no pré-teste. O IG - índice GDLAM - apontou valores médios de 39,30+5,42 no pré-teste e 35,17+4,73 no pós-teste. Embora o GE tenha apresentado melhor desempenho no pós-teste, estes foram classificados14 como "fraco" nos testes LPS (x=13,34+2,29 s), LCLC (x=61,64+7,41 s), VTC (x=14,88+4,84 s) e "regular" no LPDV (x=4,36+1,37 s) e C10m (x=6,95+1,36 s).

 
A análise descritiva e a avaliação da normalidade da autonomia funcional do GC estão apresentadas na tabela 4. No que se refere às médias de desempenho, evidenciaram-se valores similares em todos os testes, tanto no pré quanto no pós-teste. A média do IG foi de 43,34+10,33 e 43,39+10,34 no pré e pós-teste, respectivamente. Este grupo apontou escores classificados14 como "fraco" em todos os testes, tanto na primeira quanto na segunda avaliação (pré e pós-teste).

 
Na comparação intragrupos, observou-se melhora significativa (redução no tempo de execução dos testes) em todos os testes do GDLAM e no IG no pós-teste do GE, a saber: C10m (p=0,0001); LPS (p=0,013); LCLC (p=0,0001); VTC (p=0,0001); LPDV (p=0,0001); IG (p=0,0001). Já no GC, houve piora significativa (aumento no tempo de execução dos testes) em todos os testes do GDLAM e no IG no pós-teste: C10m (p=0,009); LPS (p=0,012); LCLC (p=0,034); VTC (p=0,005); LPDV (p=0,002); IG (p=0,0001) - figura 1.


A tabela 5 apresenta a comparação intergrupos. Nela, observa-se que o GE apresentou, no pós-teste, resultados significativamente satisfatórios (p<0,05) em todos os testes e no IG, quando comparados àqueles apresentados pelo GC.


DISCUSSÃO
Os valores de IMC (tabela 2) indicaram que ambos os grupos estavam classificados como sobrepeso, resultado semelhante ao apresentado por Vale et al.13 em estudo realizado com idosos participantes de grupos de terceira idade. Também o estudo de Cader et al.17 avaliando a idosas sedentárias, asiladas e praticantes de hidroginástica, encontrou o IMC classificado como sobrepeso em todos os grupos. Contudo, no presente estudo, as idosas que participaram do grupo experimental apresentaram diminuição nos valores médios de massa corporal e, consequentemente, no IMC, mas não o suficiente para atingir níveis considerados normais para o estado nutricional, de acordo com a classificação adotada.
Em relação à autonomia funcional, as idosas apresentaram melhor desempenho em todos os testes na avaliação pós-intervenção. Resultados próximos foram encontrados por Guimarães et al.,18 segundo os quais idosas submetidas a um programa de atividade física que incluía a realização de caminhadas, com frequência semanal de três vezes e duração de 60min., por pelo menos três meses, apresentaram diminuição no tempo de execução em todos os testes da bateria GDLAM, e consequentemente no IG, o que reflete a melhora no nível de autonomia funcional. Resultados semelhantes também são observados nos estudos de Varejão et al.,19 quando submeteram um grupo de idosas a um programa de intervenção de baixo impacto, composto por aulas de alongamento, explicitando que embora o programa de atividades físicas tenha sido diferenciado da presente pesquisa, seus resultados também foram positivos.
Em estudo realizado por Vale et al.20 com idosos submetidos a um treinamento de força, foi verificado que depois de realizado o tratamento experimental, o grupo submetido à intervenção reduziu os tempos marcados nos testes de autonomia funcional C10M, LPS e LPDV. Quando comparado com o grupo controle, o grupo experimental realizou todos os testes em menor tempo. No estudo ora realizado, os tempos de execução nos testes C10m, LPS e LPDV também tenderam a diminuir na avaliação pós-intervenção e apresentaram melhores resultados em relação ao grupo controle.
Varejão et al.21 realizaram intervenção com atividades especificas de alongamento em um período de 24 semanas, e obtiveram efeitos positivos e significativos na autonomia funcional de idosos, apresentando resultados melhores do que os encontrados no presente estudo. Aragão et al.,22 estudando idosas regularmente ativas da cidade de Rio de Janeiro, identificaram valores menores que o GE-Pré, porém, maiores que o GE-Pós do presente estudo, com média de 7,28+1,79 segundos. Corroborando ainda os resultados do teste C10M da presente pesquisa, Guimarães et al.18 encontraram resultados semelhantes tanto no GE-pré como no GE-Pós, apresentando valores médios respectivos de 8,37 e 6,29 segundos.
Belloni et al.23 avaliaram a autonomia funcional de idosas praticantes e não-praticantes de hidroginástica e perceberam melhor desempenho para o primeiro grupo. Neste, o desempenho foi considerado como "muito bom" nos testes de C10M, LPS, LPDV e "bom" no teste LCLC. Em relação ao presente estudo, embora o GE tenha apontado melhoras no desempenho dos testes AF pós-intervenção, estes foram classificados,14 como "fraco" nos testes LPS, LCLC, VTC e "regular" no LPDV e C10M.
Silva et al24 verificaram o efeito de um treinamento de força muscular com duração de 20 semanas sobre o nível de autonomia funcional de idosas residentes na cidade do Rio de Janeiro e perceberam que o grupo experimental apresentou melhor desempenho no pós-teste, quando comparado ao grupo controle. O grupo experimental, no estudo citado, apresentou valores médios de IG de 21,70, enquanto que no presente estudo, o valor médio desta variável para o GE foi de 35,17.
Estudo desenvolvido por Coelho & Coelho6 com idosas do estado do Piauí, submetidas a programas de caminhadas e hidroginástica composto por três seções semanais durante um período de 12 semanas, apresentou resultados finais no teste de VTC de 9,1+2,6 e 13,7+3,2, respectivamente. Esses resultados, embora melhores do que os obtidos no presente estudo, não refletem a melhoria real no desempenho desta tarefa, visto que as participantes da intervenção, no estudo citado, apresentaram melhoria média de 1,1 e 0,6 segundos.
Pode-se ainda deduzir, a partir dos três experimentos exemplificados, que atividades ao ar livre envolvendo movimentos contra a resistência gravitacional (caminhada), ao contrário da resistência da água (hidroginástica), parecem apresentar resultados mais satisfatórios na melhoria da autonomia nesta atividade.
Efeitos da intervenção com caminhada e hidroginástica, em pesquisa já apresentada nesta discussão, demonstraram que após programa de treinamento, os resultados obtidos no teste de LPDV foram, em média, 3,7±2,1 e 4,7±4,1 segundos, respectivamente, intervindo de forma expressiva no desempenho inicial das participantes, que foi de 7,6±3,0 segundos na caminhada e 5,6±4,2 segundos na hidroginástica.5 Esses resultados foram numericamente melhores do que os desta pesquisa, mesmo sendo realizada em menor intervalo de tempo, parecendo ter surtido melhor efeito do que a presente pesquisa.
Os resultados do IG para o GE-Pós foi de 27,8±4,8 e do GC de 33,7±4,8, nos quais se pode observar diferença significativa (p=0,00) na melhoria dos resultados, após intervenção tanto em relação ao GC quanto o início do GE-Pré, que era de 30,8±5,1. Guimarães et al.18 verificaram efeitos similares em grupo de idosas após intervenção com programa de atividade física, alterando seus resultados de 38,6±4,3 para 27,3±2,02 segundos.
Estes resultados de IG se tornam muito importantes, pois resultam da interação dos testes isolados do GDLAM, os quais refletem a capacidade funcional dos idosos e sua autonomia, influenciando diretamente em sua qualidade de vida. Comparando com os valores sugeridos pelo GDLAM, o grupo que realizou intervenção, apesar de reduzir seu IG de forma significativa, continuou classificado como fraco, resultado inferior aos apresentados por Guimarães et al.18 e Pereira et al.,25 este último um dos precursores da utilização deste instrumento no Brasil para amostras idosas.
Para Cunha et al.,26 esta melhora no desempenho do idoso será considerada saudável no indivíduo que, chegando aos 80 anos de idade, seja capaz de administrar sua própria vida e determinar quando, onde e como se darão suas atividades de lazer, convívio social e trabalho, condição esta em que a média do grupo estudado se aproxima.

CONCLUSÕES
O estudo mostra que o grupo estudado, depois de submetido às atividades de caminhada, obteve resultados superiores e significativos aos iniciais e ao grupo controle.
Estes resultados contribuem de forma relevante para essa população, pois por menor que seja a melhora conquistada na condição física e de autonomia nesta faixa etária, repercutirá em menor dificuldade para a realização das atividades da vida diária, melhorando assim sua capacidade funcional, tornando o idoso menos dependente no contexto social em que vive.
Alguns fatores podem ter contribuído para o pouco nível de melhora dos idosos, como o baixo condicionamento físico inicial e fatores externos não controlados. Justifica-se, desta forma, a realização de novos estudos com esta população, para que fique mais clara a influência da caminhada, controlando-se variáveis que possam ter influenciado os resultados.
 

WWW.REABILITACAODESAUDE.BLOGSPOT.COM
EMAIL : NELSON_ENFERMAGEM@HOTMAIL.COM
 






















 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário