reabilitação terceira idade

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DEPRESSÃO

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Depressão: evolutivamente selecionada?
Acredito que possa soar estranho aos olhos de alguns quando se afirma que fenômenos psiquiátricos do tipo depressão ou estresse possam ter sido evolutivamente selecionados. No entanto, a etologia nos trás grandes elucidações a respeito de tais comportamentos que por vezes afetam de maneira negativa a vida de todos nós. Afinal, ninguém está livre de sofrer com o estresse ou ser abatido pela depressão.

Para início de conversa irei esclarecer, rapidamente, o que é a depressão e estresse. A depressão constitui um dos problemas psiquiátricos sérios mais comuns da atualidade, apresentando altos índices de cronicidade, recaída e recorrência (WHO, 1999; APA, 2000). Por ser considerada uma doença como outra qualquer, exige tratamento. Os sintomas da depressão são muito variados, indo desde as sensações de tristeza, passando pelos pensamentos negativos até as alterações da sensação corporal como dores e enjôos. Contudo para se fazer o diagnóstico é necessário um grupo de sintomas centrais, como: Perda de energia ou interesse; Humor deprimido; Dificuldade de concentração; Alterações do apetite e do sono; Lentificação das atividades físicas e mentais; Sentimento de pesar ou fracasso.

Os sintomas corporais mais comuns são sensação de desconforto no batimento cardíaco, constipação, dores de cabeça, dificuldades digestivas. Períodos de melhoria e piora são comuns, o que cria a falsa impressão de que se está melhorando sozinho quando durante alguns dias o paciente sente-se bem. Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os sintomas simultâneos, aliás, é difícil ver todos os sintomas juntos.

Já o estresse está associado a mudanças bruscas no estilo de vida que podem trazer consigo situações que geram forte ansiedade e até mesmo depressão. Quando os sintomas de estresse persistem por um longo intervalo de tempo, podem ocorrer sentimentos de evasão. Os nossos mecanismos de defesa passam a não responder de uma forma eficaz, aumentando assim a possibilidade de vir a ocorrer doenças, especialmente cardiovasculares.

Muito bem, isso posto, irei me apresentar alguns estudos que indicam que a depressão foi evolutivamente selecionada, ou seja, de fato, uma adaptação.
A princípio a depressão se apresenta como um paradoxo evolutivo. É complicado supor que um processo mental que leva as pessoas ruminarem pensamento negativos, terem perda de apetite, perda da libido, alterações no sono possa ser adaptativo. Por outro lado, se o cérebro é o órgão que é responsável pelas funções cognitivas que nos levam a sobreviver e reproduzir, então as pressões seletivas deveriam "guiar" nossos cérebros a serem resistentes a tal disfunção. Assim como doenças mentais são geralmente raras, tendo índices baixos de ocorrência numa população, porquê não seria com a depressão o mesmo processo?

Aqui está uma questão interessante. Para a psicologia e psiquiatria, a depressão é vista como disfunção, uma doença, como citei anteriormente. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos ela atinge de 30 a 50 porcento das pessoas que buscam os consultórios psiquiátricos. No Brasil ela é a quinta doença mais comum, e segundo as estimativas Organização Mundial da Saúde, poderá atingir a primeira colocação em 2030!

Dados como estes parecem jogar a possibilidade de ver a depressão como uma adaptação cada vez mais longe. Bom, poderíamos encarar a depressão como um problema vinculado ao envelhecimento. Porém, diversos estudos apontam que, usualmente, sintomas de depressão já podem aparecer no início da adolescência e em jovens adultos. Então, temos que descartar essa hipótese.

Poderíamos supor que a depressão possa ser um fator semelhante à obesidade, talvez. O discurso de que o mundo moderno, suas exigências, correria, obrigações levaria o Homo sapiens teria levado à manifestação e manutenção da depressão serviria para esse caso. Porém, diversas pesquisas com tribos e povos culturalmente diversos mostraram que os sintomas de depressão também estavam presentes nessas populações. Sociedades que possuem hábitos de vida mais rudimentares carregam consigo traços importantes de como poderia ser a vida de nossos ancestrais, logo, desde muito tempo a depressão está presente em nossa espécie. Assim, descartamos a hipótese de que a depressão seja um distúrbio moderno.

Veja que, até o momento, apresentei a depressão como um disfunção, uma doença, um distúrbio e diante disso o paradoxo que envolve a depressão não foi devidamente esclarecido com essas hipóteses. Mas e se encarássemos o desafio de resolver essa problemática colocando a depressão não como uma desordem ou algo do gênero, mas a estudando como de fato uma adaptação?

Se a depressão é evolutivamente selecionada, então ela há custos reais, mas também reais benefícios.

Mas para propor tal hipótese deve haver alguma razão para isso. Uma das razões para suspeitar que a depressão seja uma adaptação e não um mal-funcionamento do cérebro, vem de estudos realizados com a proteína 5HT1A. Essa molécula funciona como receptora nos neurônios, ligando-se à seratonina. Pesquisas feitas com roedores sem esses receptores, mostraram que esses animais apresentavam menos sintomas de depressão quando expostos à situações estressantes.

O mais interessante é que, análises comparativas dos resíduos de aminoácidos da parte funcional da proteína 5HT1A. entre roedores e humanos. apresentaram uma similaridade de 99%. Esse alto grau de similaridade pode estar apontando para a grande importância dessa proteína, que dessa forma foi preservada pelo processo de seleção natural, mantendo a capacidade do organismo de "ativar" um processo depressivo.

Contudo, isso não significa dizer que a depressão não é um problema, como dito anteriormente, pessoas deprimidas tem uma série de dificuldades nas suas atividades diárias, na execução de tarefas no trabalho, na socialização, procurando se manter em isolamento, etc.

Se é uma adaptação, então qual é a sua utilidade? Que benefícios um processo depressivo poderia trazer à uma pessoa?

De maneira surpreendente, pesquisas desenvolvidas em diversas instituições descobriram que o quadro depressivo é capaz de aguçar o raciocínio analítico e a persistência, pois as pessoas depressivas têm dificuldades de pensar em qualquer outra coisa que seja. Um raciocínio analítico mais aguçado ajuda a resolver com mais facilidade problemas complexos, pois a pessoa acaba por desmembrar o problema em diversas partes que, por sua vez, acabam se tornando mais fáceis de serem resolvidas uma a uma. Tais dados foram divulgados na revista Journal of Abnormal Psychology.

Bom, se alguém tem a capacidade de amplificar a sua capacidade de pensamento analítico, é claro que tal fato se torna produtivo. Sob esse aspecto, a depressão promove a análise e resolução de problemas, focando a atenção sobre o problema e reduzindo a distração. Análises feitas no córtex pré-frontal ventrolateral (VLPFC - sigle em inglês para ventrolateral prefrontal cortex) demonstraram que os neurônios dessa camada disparam ininterruptamente, quando é exigida atenção absoluta do indivíduo. Esses disparos incensantes dos neurônios evitam a distração. Como é de conhecimento, o cérebro é um órgão beberrão por energia, e uma atividade dessa magnitude exige uma grande quantidade de energia para os neurônios. As constantes faíscas sinápticas orquestradas pelos neurônios da região VLPFC podem causar um desgaste extensivo sobre as célula neurais, o que por sua vez, pode ocasionar danos ao sistema devido ao estresse. Para evitar essa "pane" ou "quebra" nos sistema neural da VLPFC, a proteína 5HT1Aentra em campo com o papel de suprir os neurônios com a energia necessária e impedindo-os de "quebrar".

Outros tantos sintomas de depressão levam a supor que tal quadro é adaptativo. Normalmente, pessoas com depressão costumam se isolar socialmente, esse isolamento pode favorecer uma situação de completa concentração nos problemas a serem resolvidos evitando distrações ou situações que pessoas acabem requerendo a sua atenção. Mesmo no caso da perda de apetite, isso indica um favorecimento na questão de aumento da capacidade de análise da pessoa com sintomas de depressão, pois sabe-se que o processo de se alimentar interfere de maneira significativa na capacidade do cérebro de organizar informações.

É claro, que sintomas crônicos de quadro depressivo não são benéficos, fazendo com que a pessoa depressiva fique apenas ruminando seus pensamentos e seus problemas sem um tempo necessário para organizar as ideias e "destrinchar" os problemas em fragmentos menores e mais fáceis de serem resolvidos.


Contudo, diversos estudos demonstraram que em grupos de tratamento de depressão, a técnica de escrita emocional reduções significativas ansiedade e sintomas depressivos, bem como maior progresso geral na psicoterapia, em comparação ao grupo controle. Esses resultados sugerem que trabalhos de escrita emocional, em conjunto com a psicoterapia ambulatorial, facilita o processo terapêutico de quadros de depressão. No trabalho realizado por Lisa Sheeber (Family Processes in Adolescent Depression), que trata de um review de diversos estudos a respeito do assunto, mostrou que pessoas com sintomas de depressão costumam resolver dilemas sociais melhor que as demais. Dilemas sociais envolvem questões emocionais, em grande parte dos casos, talvez resida sob esse aspecto a importância evolutiva que estabeleça o real custo e o real benefício da depressão.

Enfim, é claro que existem pessoas que se opõem a tal proposta, afirmando que um quadro de depressão não trás de forma alguma vantagens ao indivíduo. Porém, o que as pesquisas na área da psicologia evolutiva demonstram que a depressão carrega em si vantagens evolutivas, e, ao mesmo tempo encoraja tratamentos que visem lidar com as supostas vantagens que tal quadro emocional carrega. O que deve ficar claro é que, mesmo que os estudos apontem que a depressão seja uma adaptação, e que tenha evoluído a partir de um estado emocional que, em algum momento, foi vantajoso, isso não significa que ela seja algo desejável.


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